Il silenzio, da “Dal mare o da altra stella” (2006), Eugénio De Andrade

Quando la tenerezza
sembra già dal suo ufficio affaticata,

e il sonno, la più incerta barca,
ancora indugia,

quando azzurri irrompono
i tuoi occhi

e cercano
nei miei navigazione sicura,

è che io ti parlo delle parole
indifese e deserte,

dal silenzio affascinante.

(Traduzione di Federico Bertolazzi)

O Silêncio

Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

Silence

When tenderness
seems tired at last of its offices

and sleep, that most uncertain vessel,
still delays,

when blue bursts from
your eyes

and searches
mine for steady seamanship,

then it is I speak to you of words
desolate, derelict,

transfixed by silence.

© Translation: 1985, Alexis Levitin
From: Eugénio de Andrade, Inhabited Heart

Notturno di Fão, da “Dal mare o da altra stella” Eugénio De Andrade

Di parola in parola
la notte sale
ai rami più alti

e canta
l’estasi del giorno.

(Traduzione di Federico Bertolazzi)

Nocturno de Fão

De palavra em palavra
a noite sabe
aos ramos mais altos

e canta
o extase do dia.

Fão nocturne

Word by word,
night climbs
to the highest boughs

and sings
the ecstasy of day.

(Translated by Alexis Levitin)

Notturno, da “Dal mare o da altra stella”, Eugénio De Andrade

Notte,
notte vecchia
nei sentieri.
La luna su in alto
a fingersi cieca.
Stelle. Alcune sono
cadute nel fiume.
Le rane
e le acque
rabbrividiscono.

(Traduzione di Federico Bertolazzi)

Nocturno

Noite,
noite velha
nos caminhos.
A lua no alto
fingindo-se cega.
Estrelas. Algumas
caíram ao rio.
As rãs
e as águas
estremecem de frio.

La poesia non va, da “Dal mare o da altra stella” (2006), Eugénio De Andrade

La poesia non va a messa,
non obbedisce alla campana della parrocchia,
preferisce aizzare i suoi cani
alle gambe di dio e degli esattori
delle tasse.
Lingua di fuoco del no,
cammino stretto
e sordo della rinuncia, la poesia
è una specie di animale
al buio che rifiuta la mano
che lo chiama.
Animale solitario, a volte
ironico, a volte amabile,
quasi sempre paziente e senza pietà.
La poesia adora
camminare scalza sulle sabbie dell’estate.

(Traduzione di Federico Bertolazzi)

A poesia não vai

A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão
que o chama.
Animal solitário, às vezes
irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora
andar descalça nas areias do Verão.

Canzone breve, Eugénio De Andrade

Tutto mi prende la terra che mi possiede:
Il fiume d’improvviso adolescente,
La luce incespicando negli angoli,
Le sabbie ove arsi impaziente.

Tutto mi prende del medesimo triste amore
nel sapere che la vita dura poco,
E in essa pongo la speranza e il calore
Di quanta tenerezza rimane tra le dita.

Dicono che vi sono altri cieli e altre lune
E altri occhi densi di allegria,
Ma io appartengo a queste case, a queste vie,
A questo amore grondante malinconia.

Cançao breve

Tudo me prende à terra onde me dei:
O rio subitamente adolescente,
A luz tropeçando nas esquinas,
As areias onde ardi impaciente.

Tudo me prende do mesmo triste amor
Que há em saber que a vida pouco dura,
E nela ponho a esperança e o calor
De uns dedos com restos de ternura.

Dizem que há outros céus e outras luas
E outros olhos densos de alegria,
Mas eu sou destas casas, destas ruas,
Deste amor a escorrer melancolia.

Vedere chiaro, da “Os Sulcos da Sede” (2001), Eugénio De Andrade

Tutta la poesia è luminosa, persino
la più oscura.
È il lettore che ha talvolta,
al posto del sole, nebbia dentro di sé.
E la nebbia non permette mai di vedere chiaro.

Se ritornerà
un’altra volta e un’altra volta
e un’altra volta
a queste sillabe infiammate
rimarrà cieco da tanto chiarore.
Sia felice se arriverà.

(Traduzione di Mariangela Semprevivo)

Ver claro

Toda a poesia è luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar do sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa de ver claro.

Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.

Le parole, da “Antologia breve” (1972), Eugénio De Andrade

Sono come un cristallo,
le parole.
Alcune, un pugnale,
un incendio.
Altre,
rugiada appena.

Segrete vengono, piene di memoria.
Insicure navigano:
barche o baci,
agitano le acque.

Abbandonate, innocenti,
leggere.
Tessute sono di luce
e sono la notte.
E persino pallide
ricordano ancora verdi paradisi.

Chi le ascolta? Chi
le raccoglie, così,
crudeli, disfatte,
nei loro gusci puri?

(Traduzione di Mariangela Semprevivo)

As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Words

They are like a crystal,
words.
Some a dagger,
some a blaze.
Others,
merely dew.

Secret they come, full of memory.
Insecurely they sail:
boats or kisses,
the waters trembling.

Abandoned, innocent,
weightless.
They are woven of light.
They are the night.
And even pallid
they recall green paradise.

Who hears them? Who
gathers them, thus,
cruel, shapeless,
in their pure shells?

Translation: Alexis Levitin
From: Inhabited Heart
Publisher: Perivale Press, Los Angeles, 1985

I frutti, Eugénio De Andrade

Così io vorrei la poesia:
fremente di luce, aspra di terra,
rumoreggiante di acque e di vento.

Os frutos

Assim eu queria o poema:
fremente de luz, áspero de terra,
rumosoro de águas e de vento.

E’ un posto nel sud, da “Bianco nel bianco” (1984), Eugénio De Andrade

È un posto nel sud, un posto dove
la calce
si solleva a sfidare lo sguardo.

Dove hai vissuto. Dove a volte nei sogni
ancora vivi. Il nome impregnato d’acqua
trasuda nella tua bocca.

Sui sentieri delle capre scendevi
alla spiaggia, il mare sferzava
quelle scogliere, quelle sillabe.

Gli occhi si perdevano annegando
nel chiarore
del tramonto o dell’alba.

Era la perfezione.

É um lugar ao sul

É um lugar ao sul, um lugar onde
a cal
amotinada desafia o olhar.

Onde viveste. Onde às vezes no sono
vives ainda. O nome prenhe de água
escorre-te da boca.

Por caminhos de cabras descias
à praia, o mar batia
naquelas pedras, naquelas sílabas.

Os olhos perdiam-se afogados
no clarão
do último ou do primeiro dia.

Era a perfeição.

De: “Branco no Branco” – 1984

Urgentemente, Eugénio De Andrade

È urgente l’amore.
È urgente una barca in mare.

È urgente distruggere certe parole,
odio, solitudine e crudeltà,
alcuni lamenti,
molte spade.

È urgente inventare allegria,
moltiplicare i baci, i raccolti,
è urgente scoprire rose e fiumi
e mattine limpide.

Cade il silenzio sulle spalle e la luce
impura, fino a dolere.
È urgente l’amore, è urgente
restare.

Urgentemente

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Urgently

It’s urgent — love.
It’s urgent — a boat upon the sea.

It’s urgent to destroy certain words,
hate, solitude, and cruelty,
some moanings,
many swords.

It’s urgent to invent a joyfulness,
multiply kisses and cornfields,
discover roses and rivers
and glistening mornings — it’s urgent.

Silence and an impure light fall upon
our shoulders till they ache.
It’s urgent — love, it’s urgent
to endure.

(Translated by Alexis Levitin)